1 de janeiro de 2018

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O Império Final (Mistborn: Nascidos da Bruma)

Livro


J. R. R. Tolkien é o precursor da fantasia épica, a principal influência do gênero e a fonte de inspiração de muitos escritores renomados, como George R. R. Martin, um dos literários de maior reputação hoje em dia. Todavia, Brandon Sanderson, que também bebe da fonte Tolkien, vem com Mistborn: Nascidos da Bruma provar que o mundo vai muito além dos arredores de Westeros, concebendo um mundo novo que entretém e sacia os fãs de tal estilo ávidos por uma nova e engajante leitura.
Exímio em sua concepção de universo e rico em sua mitologia, O Império Final se qualifica, como todo bom romance fantástico, pela criação de raças distintas, criaturas peculiares, uma estória para seu mundo, terras exóticas, personagens conflituosos, um vilão poderoso e misterioso etc. Começando pelo primeiro aspecto exaltado, o livro é sublime na confecção de suas ambientações, sempre enfatizando o tom vermelho de seu sol em alinho com constantes chuvas de cinzas quando de dia, e brumoso e aterrador ao longo da noite, o que é frequentemente frisado e faz com que o leitor grave em sua mente a imagem deste planeta pouco receptivo, o que também corrobora com o estado de espírito de sua nação sofredora e oprimida. Para tal, Sanderson usufrui de uma escrita compreensivelmente descritiva, a qual, mesmo com o uso de expressões rebuscadas, o entendimento não se é comprometido.
Bastante inventivo, O Império Final, dentre seus fatores de majestosa criatividade, com certeza tem como elemento de maior notoriedade o intrincado sistema de magia, este que, a princípio muito complexo, logo é de total familiaridade ao leitor conforme o ratificar do mesmo, principalmente durante o treinamento de Vin (grande protagonista) que, além de muito empolgante, expõe com naturalidade o respectivo sistema. Por falar em naturalidade, o romance nunca se torna escancaradamente expositivo, para tal fim, utiliza de uma protagonista leiga que, a partir de diálogos informativos para com outros personagens e as minuciosas descrições do contato com o novo mundo o qual é apresentada, o leitor acaba por se situar.
Agora, referente aos personagens, todos são cativantes e de suma relevância, seja Brisa com seu cinismo e extravagantes vestes, Dockson com sua postura resoluta e incisiva, Ham com suas imposições filosóficas (que rende instigantes momentos reflexivos), Sazed sempre prestativo e amável e Kelsier e Vin, as figuras de maior influência na estória e de confrontos internos explorados. Certamente há vários outros personagens de similar carisma e importância, mas Kelsier e Vin se encarregam por imensa parcela dos eventos em sublinho e representam toda a dramaticidade das circunstâncias e o maior desafio de Sanderson, ou seja, o contundente desenvolvimento de suas personalidades, tendo de lidar com os demônios de ambos e a forma com a qual são vistos e se sentem, muitas vezes completamente distintas, como o próprio Kelsier sempre sorrindo e carismático, mas também obstinado, convicto, vingativo e implacável. Ademais, a transformação de Vin é algo simplesmente esplêndido e digno de nota, isto é, a maneira com que ela passa a ver as coisas sob novas perspectivas, a ponderar sobre questões que antes não pensara, o descobrimento de conceitos que jamais imaginara conhecer, a tentação que a assola mesmo frente a obrigações e a instabilidade de identidade que passa a enfrentar, tudo com tal verossimilhança que o leitor se questiona, se frustra e constantemente se encontra matutando sobre o certo e o errado, o desejo e o dever.
Ainda relacionado às figuras em relevo, há determinados rostos que, antes secundários, quando passam a receber maior atenção espairecem dúvidas e tem seu caráter revelado, investida certeira do livro ao criar uma atmosfera de interrogação acerca dos mesmos e só os destrinchar quando oportuno ao enredo, caso similar do próprio Senhor Soberano (grande vilão) que na maior parte do tempo é uma incógnita, o que estimula a imaginação do leitor a respeito de sua imagem profana e sinistra envolta por mistérios, como seu labiríntico passado e imensurável poder. Falando em mistério, os pequenos trechos que antecedem o início de todos os capítulos são um grande enigma e colaboram com a sensação de que sempre há mais do que se foi revelado, seja por conta do suscitar de muitas hipóteses ou os personagens que levantam suspeitas corrente uma específica ou outra atitude. Ademais, o romance também se destaca pela caracterização de seus antagonistas além do próprio Senhor Soberano, agregando toda imponência maléfica aos perturbadores pregos que preenchem as órbitas dos Inquisidores e as inquietantes tatuagens que circundam os olhos dos obrigadores. Além, a dinâmica entre os personagens merece realce, seja o vínculo quase que fraternal e de ensinamentos entre Kelsier e Vin, as amistosas brincadeiras entre Ham e Dockson e, mesmo sem qualquer aparição, o relacionamento de amor e ódio de Vin para com seu irmão mais velho, Reen.
Considerando a forte nuance política do livro, esta é muito bem arquitetada e detém bastante pertinência, cheio de intrigas, manipulação, luxo e jogos, a típica realeza imperial. Neste gancho, Sanderson aproveita para fazer diversas críticas ao sistema predominante que divide a sociedade em duas, privilegiando os nobres e execrando os plebeus, onde claras alegorias a escravidão e regimes totalitaristas são visíveis. No mais, embora seja bastante original, o romance igualmente tira proveito de aspectos com os quais um leitor habitual já se deparou e, embora surpreendente em certos pontos, é previsível em alguns e pouco provável em outros. De maneira similar, deve-se acentuar a vida amorosa de Vin que, apesar de consentânea a idade e ao progresso da estória, não inova, deixando a mercê do leitor considerações pessoais a respeito.
Mistborn: Nascidos da Bruma – O Império Final peca pouco, é divertido, autoral e deixa pendências interessantes para sua sequência.
Matheus J. S.

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Ficha Técnica:
Autor: Brandon Sanderson
País: Estados Unidos
Gênero: Romance; Fantasia
Editora: Tor Books (EUA)
Lançamento: 2006
Páginas: 608

Avaliação
Goodreads: 4,43
Orelha de Livros: 4,0
Skoob: 4,7
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8,5
Avaliação

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