Filmes de guerra preenchem um gênero
cinematográfico que já abordou os mais variados conflitos, seja a icônica
Guerra do Vietnã, a sangrenta Grande Guerra, A Guerra da Coreia, os campos
diplomáticos da Guerra Fria e, possivelmente a mais explorada como também a
mais fatal, a Segunda Guerra Mundial. Tendo sido destrinchada de cabo a rabo,
confronto a confronto, por documentários a séries milionárias, mais um longa em
tal cenário certamente tem algo novo a oferecer, certo? Talvez, mas
definitivamente este não é o caso de Dunkirk.
Dirigido e roteirizado por Christopher Nolan,
três dos principais equívocos da película se encontram no próprio script, isto
é, a ausência de uma diretriz, a falta de sensibilidade ao estabelecer vínculos
entre o espectador e os personagens e a ausência de fatores genuínos ao que se
passa em tela. Ou seja, Dunkirk, em sua pretensão de ser mais do que é, divide
sua trama sob três perspectivas, as quais nenhuma consegue engajar o público.
Quando no ar, se torna maçante consoante seguidas tomadas muito similares,
quando em terra, desinteressante conforme o personagem em foco que não incita o espectador a sua luta inverossímil pela sobrevivência e, quando no
mar, monótono e pouco convincente às tentativas de atribuir um arco
individualmente dramático seja às quaisquer das figuras. Seria Dunkirk uma
estória de resistência ou sobre os horrores da guerra? Poderia ser, não fossem
os aspectos de tão pouca autenticidade: os ambientes são límpidos, não há caos,
sangue, vísceras ou sofrimento, nem degradação física, martírio com os
acontecimentos acerca, assíduas batalhas pela vida ou reticência para com um
possível futuro negativo, bem como as investidas alemães são demasiado
atenuadas e simplificadas a exíguos ataques aéreos. Então seria um filme
sobre a coletividade e esperança? Também não, já que, quando trabalhando em
conjunto, os personagens são artificiais, não demonstram espontaneidade ou
veemência em suas ações, enquanto igualmente o são letárgicos para com possibilidades
esperançosas, mas não como consequência da contenda, mas sim uma letargia que
reflete o enredo ineloquente.
Dentre suas muitas tentativas de emplumar o
frágil entrecho, Dunkirk aposta numa narrativa não-linear que pretende ser mais
inteligente e instigante do que é, acarretando apenas em frustrante confusão.
Outro fator que ratifica a presunção do longa é visível em sua concepção de
tela que constantemente se alterna entre dois formatos distintos, sem nenhum
propósito de maior relevância. Também se deve ressaltar que os nazistas não
tomam forma, o que procura estimular a imaginação do público, porém falha,
pois, mediante os arcos pouco envolventes, o espectador se porta indiferente às
jogadas do roteiro que buscam, com insucesso, tornar a película mais empolgante.
De similar modo, poucos são os diálogos, recurso de menor uso que tem como
objetivo trazer à tona emoções evocadas pelas imagens, o que também é errôneo,
já que as imagens não impactam e qualquer mensagem que o filme possa querer
passar se perde em sua vaga confecção. Ademais, corrente a trama segmentada e alheia
para com seus protagonistas, os atores não têm muito espaço para atuar, como é
o caso de Tom Hardy, um magnífico artista que, além do tempo reduzido, tem seu
talento desperdiçado num papel que não dá liberdade a expressividades.
Apesar de seu início tenso, agressivo e
promissor, Dunkirk logo se perde, todavia, também acerta, mesmo que minimamente.
Em outras palavras, o longa se encarrega de uma trilha sonora forte e
contagiante, de determinadas sequências angustiantes e bem concebidas
geralmente relacionadas à água, de passagens ágeis inteligíveis e de um visual
bonito e contundente às paisagens que deseja ilustrar, fazendo-o de tal maneira
a abranger as mais diversas locações por meio de planos gerais, como o mar, a
praia e até mesmo a cidade e as colinas ao longe.
Em suma, Dunkirk é inconsistente para com suas
propostas, disperso para com seus personagens, apático para com a delicadeza de
suas situações e que nada acrescenta ao gênero ou valoriza o quê o mesmo tem de
melhor a oferecer.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica
(Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 27 de julho de 2017 (1h
47min)
Direção: Christopher Nolan
Elenco: Fionn Whitehead, Mark Rylance, Tom Hardy…
Gêneros: Guerra; Histórico; Drama
Nacionalidades: EUA, França, Reino Unido e Holanda
Avaliação:
IMDb:
8,2
Rotten:
92%
Metacritic:
94%
Filmow
(média geral): 4,0
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 4,1/3,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 2
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