A natureza humana já foi explorada incontáveis vezes de diversas maneiras, seja sob óticas pessimistas, genuínas e até otimistas. Em Paciente 67, de Dennis Lehane, o homem mais uma vez é o foco, porém numa trama trágica repleta de sangue e mortes.

Em seus primórdios um thriller investigativo, logo uma jornada de vingança e em seu âmago uma viagem em meio à loucura, Paciente 67 é um livro de camadas que em sua essência, apesar de a princípio não aparentar, não deixa de ser um mordaz drama sobre a guerra. Inteligente, singular, verossímil e impactante, o romance concebe com exemplar maestria seus personagens, mas o realce fica mesmo por conta do protagonista Teddy Daniels, o pilar crítico e representativo dos horrores do confronto. Convicto e perspicaz, porém conflituoso, instável e emocionalmente aluído, Teddy serve, funcional e brilhantemente, como o reflexo dos abalos físicos e mentais da contenda, seja esta em seu cotidiano, em seus relacionamentos para com segundos ou em sua nova e decadente perspectiva de mundo. No entanto, Paciente 67, labiríntico, intrigante e relevante, visto que seu enredo possui muito mais do que o simples intuito de entreter, não para por aí e garante que o leitor esteja sempre munido de boas, interessantes e pautáveis reflexões, deslumbrantemente alternando mistério e discussões que vão desde religião a pensamentos filosóficos e questões éticas medicinais.

Ao utilizar uma escrita em terceira pessoa, o livro, no entanto, intriga quem o está lendo com sua gênese em primeira pessoa anos após os acontecimentos relatados, sob um panorama enigmático, melancólico e saudosista. Embora indecifrável quando apresentado, o segmento serve como introdução esfíngica que logo de cara traduz bem a atmosfera do entrecho, além de adquirir ainda mais dúvidas ao correr do mesmo e só poder ser nitidamente interpretado ao seu clímax genial e inesperado. Por falar em escrita, o romance opta por uma linguagem fácil, trabalhada, descritiva e detalhista que se responsabiliza por uma urdidura fluida e natural, onde os cenários e as situações podem ser imaginados sem dificuldade e com clareza, que preza constância e exímia sutileza até nos momentos mais complexos e delicados que abrangem temas como a mente humana, existencialismo, realidade e depressão. Como prova de tal fato, observa-se as passagens em flashbacks e alucinações que são confeccionadas sem comprometer a leitura com uma confusão narrativa e/ou compreensiva, enquanto se mantêm envoltas por instigantes incógnitas e charadas.

Paciente 67 é um livro de nuances, pertinente, envolvente e surpreendente, que nunca subestima seu leitor, ímpar, sublime e ambicioso, árduo e realista que trabalha o contexto como poucos, certamente imprescindível para todo apreciador do gênero.

Matheus J. S.

Leia e Kontamine-se

Comente e Siga Nosso Blog

Ficha Técnica:

Autor: Dennis Lehane

País: Estados Unidos

Gênero: Romance; Ficção; Mistério; Suspense

Editora: William Morrow and Company

Lançamento: 2003

Páginas: 344

Avaliação

Goodreads: 4,07

Orelha de Livros: 4,0

Skoob: 4,4

Kontaminantes (Matheus J. S.): 9

Paciente 67

A natureza humana já foi explorada incontáveis vezes de diversas maneiras, seja sob óticas pessimistas, genuínas e até otimistas. Em Paciente 67, de Dennis Lehane, o homem mais uma vez é o foco, porém numa trama trágica repleta de sangue e mortes.

Em seus primórdios um thriller investigativo, logo uma jornada de vingança e em seu âmago uma viagem em meio à loucura, Paciente 67 é um livro de camadas que em sua essência, apesar de a princípio não aparentar, não deixa de ser um mordaz drama sobre a guerra. Inteligente, singular, verossímil e impactante, o romance concebe com exemplar maestria seus personagens, mas o realce fica mesmo por conta do protagonista Teddy Daniels, o pilar crítico e representativo dos horrores do confronto. Convicto e perspicaz, porém conflituoso, instável e emocionalmente aluído, Teddy serve, funcional e brilhantemente, como o reflexo dos abalos físicos e mentais da contenda, seja esta em seu cotidiano, em seus relacionamentos para com segundos ou em sua nova e decadente perspectiva de mundo. No entanto, Paciente 67, labiríntico, intrigante e relevante, visto que seu enredo possui muito mais do que o simples intuito de entreter, não para por aí e garante que o leitor esteja sempre munido de boas, interessantes e pautáveis reflexões, deslumbrantemente alternando mistério e discussões que vão desde religião a pensamentos filosóficos e questões éticas medicinais.

Ao utilizar uma escrita em terceira pessoa, o livro, no entanto, intriga quem o está lendo com sua gênese em primeira pessoa anos após os acontecimentos relatados, sob um panorama enigmático, melancólico e saudosista. Embora indecifrável quando apresentado, o segmento serve como introdução esfíngica que logo de cara traduz bem a atmosfera do entrecho, além de adquirir ainda mais dúvidas ao correr do mesmo e só poder ser nitidamente interpretado ao seu clímax genial e inesperado. Por falar em escrita, o romance opta por uma linguagem fácil, trabalhada, descritiva e detalhista que se responsabiliza por uma urdidura fluida e natural, onde os cenários e as situações podem ser imaginados sem dificuldade e com clareza, que preza constância e exímia sutileza até nos momentos mais complexos e delicados que abrangem temas como a mente humana, existencialismo, realidade e depressão. Como prova de tal fato, observa-se as passagens em flashbacks e alucinações que são confeccionadas sem comprometer a leitura com uma confusão narrativa e/ou compreensiva, enquanto se mantêm envoltas por instigantes incógnitas e charadas.

Paciente 67 é um livro de nuances, pertinente, envolvente e surpreendente, que nunca subestima seu leitor, ímpar, sublime e ambicioso, árduo e realista que trabalha o contexto como poucos, certamente imprescindível para todo apreciador do gênero.

Matheus J. S.

Leia e Kontamine-se

Comente e Siga Nosso Blog

Ficha Técnica:

Autor: Dennis Lehane

País: Estados Unidos

Gênero: Romance; Ficção; Mistério; Suspense

Editora: William Morrow and Company

Lançamento: 2003

Páginas: 344

Avaliação

Goodreads: 4,07

Orelha de Livros: 4,0

Skoob: 4,4

Kontaminantes (Matheus J. S.): 9