30 de junho de 2017

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Rambo: Programado para Matar

Pôster


"Eu não vim aqui salvar o Rambo de vocês, vim aqui salvar vocês dele"

Se hoje há John Wick, Bryan Mills, Jason Bourne, Jack Reacher... na década de 80 havia John Rambo.
Baseado no livro First Blood (1972) de David Morrell, o filme, diferente de seus sucessores, aposta num enredo mais modesto, mas isto não quer dizer que o mesmo não esteja munido por uma boa dose de tiros e explosões. Tendo como protagonista um veterano do Vietnã, o longa, logo em seus primórdios, exalta as maléficas consequências do conflito perante a procura de John por um companheiro de guerra que descobre ter morrido devido um câncer adquirido em campo de batalha. Não se engane, mordaz, Rambo é um drama mascarado pela ação que possui como intuito transparecer as perversidades do respectivo confronto.
Responsável por marcar uma geração, a película não se resume a grandes sequências de ação, lutas impossíveis ou exacerbadas, desnecessárias e improdutivas cenas frenéticas, é um filme sobre um ex-combatente atormentado por seu passado que luta por sua sobrevivência e conceitos. Reflexivo e pertinente, o longa trabalha muito bem seu protagonista, este que constantemente se vê assombrado pelas recordações da contenda, ou seja, os horrores da guerra são projetados na personalidade e nas lembranças dele, algo que é corroborado pela excelente atuação de Sylvester Stallone (perpetuado na pele do ex-guerrilheiro) que personifica uma alma desgastada, ferida e melancólica (o personagem não dá sequer um sorriso ao longo dos aproximados 90 minutos de produção), porém convicta, inteligente e mortífera. Ademais, Rambo é o reflexo de um homem incurável que jamais consegue se livrar de tais acontecimentos, seja psicologicamente ou socialmente, principalmente na maneira como lida com distintas situações e na forma como é visto pelas pessoas, por alguns como um vagabundo, por outros, como dito pelo mesmo, como um "assassino de bebês".
Servindo como sutil crítica ao sistema que não oferece opções aos recrutados, a fisgada é enaltecida corrente a dificuldade de adaptação de vida de John que é salientada por um emocionante e impactante monólogo próximo ao desfecho que ratifica a performance de Stallone, onde é realçada os laços constituídos durante o conflito, as oportunidades de trabalho inexistentes, a dependência da testilha e a inadequação ao atual mundo pós-guerra, sem amigos nem família e o tempo perdido, bem como, no início, sua vida quase como um sem-teto.

“No campo eu podia pilotar um avião, dirigir um tanque, comandava equipamentos de um milhão de dólares, aqui eu não arrumo emprego nem como manobrista [...] Oh meu Deus... o que é isso... oh meu Deus... onde está todo mundo? Os caras... eles... eles eram meus amigos... eles eram meus amigos... sabe, eu gostava deles, eu... eu gostava deles... aqui... aqui não tem nada... sabe, aqui não tem nada.”

Igualmente se exalça uma delicada cutucada referente a um verdadeiro reconhecimento que nunca recebeu, um reconhecimento que vá além de uma simples e vazia patente e honraria. Aliás, é interessante ressaltar o curioso entrecho que opõe os oficiais ao protagonista, jogada que pode servir como metáfora à exploração dos mesmos sobre os desamparados e vulneráveis soldados na guerra e ao militarismo opressor que maquina as sangrentas batalhas, servindo somente como massa de manobra dos que realmente se encontram no poder. Por falar em oposição, deve-se considerar a atuação do antagonista que é convincente: persistente, arrogante e ingênuo em seu papel. Ademais, observando-se o ano de estreia da película (1982), consta-se, perante o contexto da época, um protesto às pugnas no Vietnã encerradas em 1975, que renderam a derrota e muitas mortes para os EUA.
Fugindo de clichês, o filme não foca na origem do personagem e suas habilidades, bem como não arruma tempo para algum bobo e irrelevante relacionamento amoroso acerca deste, o que coopera para o destaque da identidade solitária de John. Utilizando uma trilha sonora que atualmente evoca certa nostalgia, o longa também usufrui de segmentos hilários que brincam com a reputação e os estragos causados pelo ex-militante, além de um clima de competição que se instaura em meados da trama que coopera com a comicidade.
Clássico e atemporal, Rambo hoje talvez não cause o mesmo efeito que causou há mais de 30 anos atrás, mas ainda serve como entretenimento garantido, boa pedida para os fãs do gênero, apreciação de um ícone que se imortalizou e contundente visão do período histórico e cinematográfico, ademais de enfatizar que nunca (NUNCA!) se deve provocar um desconhecido.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 6 de novembro de 1982 (1h 37min)
Direção: Ted Kotcheff
Elenco: Sylvester Stallone, Richard Crenna, Brian Dennehy…
Gênero: Ação
Nacionalidade: EUA

Avaliação:
IMDb: 7,7
Rotten: 87%
Metacritic: 62%
Filmow (média geral): 3,6
Adoro Cinema (usuários): 4,3
Kontaminantes (Matheus. J. S.): 9
Avaliação

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