"Eu não vim aqui salvar o Rambo de vocês,
vim aqui salvar vocês dele"
Baseado no livro First Blood (1972) de David Morrell, o filme, diferente de seus
sucessores, aposta num enredo mais modesto, mas isto não quer dizer que o mesmo
não esteja munido por uma boa dose de tiros e explosões. Tendo como
protagonista um veterano do Vietnã, o longa, logo em seus primórdios, exalta as
maléficas consequências do conflito perante a procura de John por um
companheiro de guerra que descobre ter morrido devido um câncer adquirido em
campo de batalha. Não se engane, mordaz, Rambo é um drama mascarado pela ação
que possui como intuito transparecer as perversidades do respectivo confronto.
Responsável por marcar uma geração, a película
não se resume a grandes sequências de ação, lutas impossíveis ou exacerbadas,
desnecessárias e improdutivas cenas frenéticas, é um filme sobre um
ex-combatente atormentado por seu passado que luta por sua sobrevivência e
conceitos. Reflexivo e pertinente, o longa trabalha muito bem seu protagonista,
este que constantemente se vê assombrado pelas recordações da contenda, ou
seja, os horrores da guerra são projetados na personalidade e nas lembranças
dele, algo que é corroborado pela excelente atuação de Sylvester Stallone
(perpetuado na pele do ex-guerrilheiro) que personifica uma alma desgastada,
ferida e melancólica (o personagem não dá sequer um sorriso ao longo dos
aproximados 90 minutos de produção), porém convicta, inteligente e mortífera.
Ademais, Rambo é o reflexo de um homem incurável que jamais consegue se livrar
de tais acontecimentos, seja psicologicamente ou socialmente, principalmente na
maneira como lida com distintas situações e na forma como é visto pelas
pessoas, por alguns como um vagabundo, por outros, como dito pelo mesmo, como
um "assassino de bebês".
Servindo como sutil crítica ao sistema que não
oferece opções aos recrutados, a fisgada é enaltecida corrente a dificuldade de
adaptação de vida de John que é salientada por um emocionante e impactante
monólogo próximo ao desfecho que ratifica a performance de Stallone, onde é
realçada os laços constituídos durante o conflito, as oportunidades de trabalho
inexistentes, a dependência da testilha e a inadequação ao atual mundo
pós-guerra, sem amigos nem família e o tempo perdido, bem como, no início, sua
vida quase como um sem-teto.
“No campo eu podia pilotar um
avião, dirigir um tanque, comandava equipamentos de um milhão de dólares, aqui
eu não arrumo emprego nem como manobrista [...] Oh meu Deus... o que é isso...
oh meu Deus... onde está todo mundo? Os caras... eles... eles eram meus
amigos... eles eram meus amigos... sabe, eu gostava deles, eu... eu gostava
deles... aqui... aqui não tem nada... sabe, aqui não tem nada.”
Igualmente se exalça uma delicada cutucada
referente a um verdadeiro reconhecimento que nunca recebeu, um reconhecimento
que vá além de uma simples e vazia patente e honraria. Aliás, é interessante
ressaltar o curioso entrecho que opõe os oficiais ao protagonista, jogada que
pode servir como metáfora à exploração dos mesmos sobre os desamparados e
vulneráveis soldados na guerra e ao militarismo opressor que maquina as
sangrentas batalhas, servindo somente como massa de manobra dos que realmente
se encontram no poder. Por falar em oposição, deve-se considerar a atuação do
antagonista que é convincente: persistente, arrogante e ingênuo em seu papel.
Ademais, observando-se o ano de estreia da película (1982), consta-se, perante
o contexto da época, um protesto às pugnas no Vietnã encerradas em 1975, que
renderam a derrota e muitas mortes para os EUA.
Fugindo de clichês, o filme não foca na origem
do personagem e suas habilidades, bem como não arruma tempo para algum bobo e
irrelevante relacionamento amoroso acerca deste, o que coopera para o destaque
da identidade solitária de John. Utilizando uma trilha sonora que atualmente
evoca certa nostalgia, o longa também usufrui de segmentos hilários que brincam
com a reputação e os estragos causados pelo ex-militante, além de um clima de
competição que se instaura em meados da trama que coopera com a comicidade.
Clássico e atemporal, Rambo hoje talvez não
cause o mesmo efeito que causou há mais de 30 anos atrás, mas ainda serve como
entretenimento garantido, boa pedida para os fãs do gênero, apreciação de um
ícone que se imortalizou e contundente visão do período histórico e
cinematográfico, ademais de enfatizar que nunca (NUNCA!) se deve provocar um
desconhecido.
Matheus
J. S.
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Ficha Técnica
(Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 6 de novembro de 1982 (1h
37min)
Direção: Ted Kotcheff
Elenco: Sylvester Stallone, Richard Crenna, Brian
Dennehy…
Gênero: Ação
Nacionalidade: EUA
Avaliação:
IMDb:
7,7
Rotten:
87%
Metacritic:
62%
Filmow
(média geral): 3,6
Adoro
Cinema (usuários): 4,3
Kontaminantes (Matheus. J. S.): 9
Ótima divagação, condizente e pertinente.
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