Michael Haneke, renomado cineasta austríaco (A
Fita Branca, Violência Gratuita, O Sétimo Continente...), formado em filosofia
e psicologia, certamente é um dos diretores mais cultuados e interessantes da
atualidade. Versátil e ácido para com suas propostas, o mesmo já explorou
distintos gêneros, sempre obtendo êxito ao incomodar o espectador e o instigar
a reflexão tirando-o de sua zona de conforto. Com Amor não é diferente.
Embora o roteiro se baseie em uma aparente
historinha bonita, o filme vai muito além e, já em sua primeira sequência,
atribui ênfase a um corpo morto, o que denota o tom dramático do mesmo e
característico do cineasta. Minimalista, utilizando de sequências extensas,
cortes secos, trilha sonora praticamente escassa e pouquíssimos cenários de
confecção modesta, o longa segue um ritmo lento, quase verborrágico, porém
necessário para o desenrolar paciente da trama. Esta, que gira em torno de um
casal e as complicações da terceira idade, mostra-se brilhante ao desenvolver
simultaneamente o belo relacionamento de ambos e os conflitos de cada um
individualmente. Ademais, a película, consoante seu caráter gradativo, ratifica
os sons ambientais conforme a ausência de diálogos que se dá principalmente em
passagens onde o saudosismo e as lembranças são ressaltados.
Deixando um pouco a violência de lado, Haneke
foca num entrecho onde, como o próprio nome já diz, destaca-se o amor. Desta
forma, ao apresentar um apaixonado casal, o filme consegue, mesmo sem a
apresentação de tais segmentos, enaltecer o passado de seus protagonistas, o
espectador sabe que eles detêm uma história juntos e uma vida que há muito
compartilham. Ao testar os sentimentos de Georges, o longa enaltece esse amor
recíproco, no entanto, de forma realista, o mesmo o humaniza da maneira mais
complexa possível e pode, perante determinadas sequências que refletem o dito,
impactar o público. Abordando uma situação infeliz pelas quais muitos passam, a
película acomete, consoante o declínio das condições físicas e mentais de Anne,
pequenos arcos acerca do tratamento para com alguém incapacitado, as fragilidades da
idade e o cotidiano difícil conforme os longínquos anos de vida. Considerando o
esplêndido trabalho dos protagonistas, a mesma consegue envolver o público a
ponto de fazê-lo sentir todas as angústias e confrontos em tela, bem como a
consentânea atuação da queridinha francesa Isabelle Huppert que exalta o elenco
e confirma as belas interpretações, além de servir como personificação dos
familiares que se veem divergentes e impotentes em meio as tais circunstâncias.
Premiada produção francesa, o longa, indicado a
quatro Oscars (dentre elas, nomeado a principal), vencedor na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, e prestigiado
com a cobiçada Palma de Ouro durante o Festival de Cannes de 2012, ainda arruma
tempo para algumas curiosas simbologias e um emocionante e impressionante
desfecho. Delicado, afetuoso, terno e tocante, certamente Amor pode ser
considerado um dos expoentes do gênero, assim como um exemplar estudo de
personagens em mais uma aula cinematográfica de Haneke.
Matheus
J. S.
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Ficha Técnica
(Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 18 de janeiro de 2013 (2h
07min)
Direção: Michael Haneke
Elenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva,
Isabelle Huppert…
Gênero: Drama
Nacionalidades: França, Alemanha, Áustria
Avaliação:
IMDb:
7,9
Rotten:
93%
Metacritic:
94%
Filmow
(média geral): 4,2
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 4,3/3,5
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