23 de fevereiro de 2017

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Moonlight



É certo que muitos filmes dramáticos possuem seu foco principal, ou seja, a criminalidade, conflitos familiares, homossexualidade... dentre muitos outros, mas Moonlight é o primeiro longa que assisti (do qual me recordo) que trata destes e mais diversos assuntos paralelamente em um mesmo entrecho acerca de uma só personalidade. Sem dúvida alguma, mesmo os que não curtirem a película, terão o que refletir e serão tocados de alguma forma.
Extremamente aclamado, vitorioso em festivais recentes e um dos favoritos neste iminente Oscar 2017, Moonlight, ao decorrer de seu enredo, segue um jovem negro (Chiron, também conhecido como Little e Black) ao longo de sua vida dividida em três segmentos, infância, juventude e fase adulta. É obvio que, consoante esta premissa e uma sinopse que abrange basicamente uma jornada de autoconhecimento e confrontos, o entusiasmo não se eleve tanto, afinal, quantos não são os filmes que abordam o mesmo contexto? Mas não se engane, o longa é muito mais do que isso e, como já dito, acaba por ser bem mais expansivo referente a múltiplos aspectos.
Com uma sequência inicial que já apresenta certas predominâncias do roteiro, a película principia explorando certa parte do mundo do tráfico de drogas e o bullying que muitos sofrem desde cedo. Além, induz um relacionamento significativamente paternal conforme a ausência de um pai biológico e verdadeiro e o abismo que praticamente existe, apesar de bem próximos, entre mãe e filho. Este, o considerável vínculo paternal, será fruto de muitos conflitos, tanto pessoais quanto morais, de interesses e valores, assim como virá a ser influente na vida do protagonista e o alicerce de outra relação que irá se solidificar e igualmente terá sua parcela de influência na trajetória de Chiron. Ratifico que determinados fatores citados (não especificarei quais para não dar spoilers diretos) sofrerão uma mudança de papéis no futuro de Little. Ademais, não nos esqueçamos que o intérprete da figura simbolicamente paternal é o responsável por outra indicação ao mais cobiçado prêmio do universo cinematográfico, desta vez a Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali). Vale ressaltar que este artista se encontra em outra produção de realce e concorrente ao Oscar de Melhor Filme, Estrelas Além do Tempo.
Dentre as reflexões impostas, talvez a mais ácida, controversa e incomoda (pelo menos para alguns) seja o homossexualismo e o preconceito corrente, e não o racismo (o qual nem é mencionado na película) como muitos devem pensar conforme o arco girar em torno de uma pessoa negra e o longa focar praticamente apenas em personagens da dita etnia. Prosseguindo, nos vemos diante de várias situações onde a opção sexual de Black se mostra um empecilho ao gerar conturbadas e discriminatórias relações com outras pessoas, sendo a responsável pelo bullying sofrido na infância e adolescência, como também a responsável por sua personalidade introspectiva, assim como a pioneira de uma amizade infantil que evolui até se tornar uma paixão. Consoante os conflitos do protagonista, somos imersos em uma condução que explora o íntimo e o eu interior de Chiron, além da máscara que utiliza para encobrir sua verdadeira face. Como se observa, o filme se posiciona, neste quesito, de tal maneira a fazer uma alegoria a todos nós e os sentimentos que buscamos ocultar perante os outros e as muitas facetas irreais pelas quais nos mascaramos em nosso cotidiano. Ou seja, buscamos ser o que não somos para agradar pessoas de quem não gostamos (percebeu a referência?), temos nossos princípios morais alterados e personalidade transformada perante situações drásticas e acabamos vivendo sob os critérios de segundos que regem nosso dia a dia ou simplesmente temos de conviver reclusos conforme o mundo preconceituoso que nos cerca. Com isto, identificamos na figura de Little toda a complexidade presente em um ser humano, ademais da representação das várias pessoas que passam por similares complicações em sua dura e difícil rotina diária.
Ainda referente ao relacionamento homossexual de Black, este acaba por gerar aqueles famosos momentos constrangedores (pouquíssimos, diga-se de passagem), além de uma cena de beijo gay que foi proibida na Índia. Apesar do assunto delicado e passagens que um público comum e mais superficial não está habituado, em nenhum momento o longa se torna depravado ou escandaloso, ademais de não fornecer justificativas para o corte da cena de suma relevância no país asiático.
Utilizando como um dos principais artifícios o tempo, a película, ao passar por vários períodos da vida de Chiron, se aprofunda em diversos aspectos que sofrem certas mudanças e outros que permanecem, podendo ser citado como exemplo prevalecente as características psicológicas do protagonista mesmo frente à mudança de atores, o que só comprova o quanto estes desempenharam uma performance extraordinária (embora nenhum deles conseguiu uma nomeação a Melhor Ator). Com outras belíssimas atuações (Naomi Harris tem grandes chances na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante) e inúmeras outras reflexões propostas que vão desde questionamentos sobre a vida, atitudes que tomamos e rumos que trilhamos, o filme flui naturalmente e está repleto de passagens tocantes e emocionantes, além de se destacar consoante determinados aspectos que se sobressaem mais que outros e atribuem ao longa uma pincelada diferenciada, como a trilha sonora geralmente orquestral que se alterna entre toques de RAP e melodias mais sentimentais, sequências sem cortes que permitem uma bela, fluida e mais compreensível condução, cenas de realce em câmera lenta e passagens que são marcadas pela falta de diálogo que usufruem de outro meio para transmitir a sensação desejada.
Em suma, Moonlight é excepcional e brilhante ao que se propõe, apesar de não ser um filme que agradará o paladar de todos. Similarmente tem tudo para ser lembrado ainda por muito tempo e, considerando as 8 indicações deste Oscar 2017, sair bastante vitorioso da cerimônia mais aclamada do universo cinematográfico. Além, enfatizo que, embora não seja minha película favorita dentre os nomeados (também não é La La Land), acredito que a produção seja a vencedora de uma das mais cobiçadas categorias do festival, a de Melhor Filme.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Avaliações:
IMDb: 7,9
Rotten: 98%
Fimow (média geral): 4,2
Adoro Cinema (usuários): 4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5





Ficha Técnica Resumida (Wikipédia):

Estados Unidos
2016 • cor • 110 min 
Direção
Barry Jenkins
Produção
Adele Romanski
Dede Gardner
Jeremy Kleiner
Roteiro
Barry Jenkins
História
Tarell Alvin McCraney
Elenco
Trevante Rhodes
André Holland
Janelle Monáe
Ashton Sanders
Jharrel Jerome
Naomie Harris
Mahershala Ali
Música
Nicholas Britell
Cinematografia
James Laxton
Edição
Nat Sanders
Joi McMillon
Companhia(s) produtora(s)
A24
Plan B Entertainment
Pastel Productions
Lançamento
EUA
21 de outubro de 2016
Idioma
Língua inglesa

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